quarta-feira, 30 de setembro de 2015

E o copeiro caiu

O Grêmio caiu!
O Fluminense mostrou equilíbrio e apresentou um futebol no mínimo competitivo para o restante da Copa do Brasil.
Fez um bom primeiro tempo e soube usar o regulamento a seu favor no final da partida, resistindo a uma forte pressão da equipe gaúcha.
Já o Grêmio, firme na luta pelo campeonato brasileiro, por pouco não conseguiu o placar que lhe era favorável, porém foi pouco objetivo e até certo ponto, burocrático.
Classificação justa de um Fluminense que não pareceu se abalar com a rescisão de R10.
Pelo contrário: não tem mais o peso de escalar o craque, deixando fluir o jovem e bom meio-campo tricolor.

PS: o outro gaúcho também foi eliminado, o Internacional. Com isso, pode pintar novamente uma final estadual, como ocorreu na edição de 2014.

Cartas na mesa

Agora é oficial.
Terminou na noite de hoje o prazo de inscrição das chapas que concorrerão à presidência do Flamengo para o próximo triênio 2016-2018.
Concorrerão ao pleito Eduardo Bandeira de Mello, Wallim Vasconcelos e Cacau Cotta.
A política rubro-negra sempre foi muito quente com várias correntes dentro da Gávea. E não será diferente desta vez.
Figuras emblemáticas costumam aparecer declarando seu apoio, como foi o caso de Zico, há algumas semanas. 
Nomes ligados diretamente à cartolagem também ressurgem nos noticiários do clube nessa época, como Márcio Braga, Helal e Kleber Leite.
Independente da corrente, o próximo mandatário deve abraçar a ideia da responsabilidade fiscal que o clube promoveu nos últimos anos. Digna de várias menções, inclusive internacional, a atual administração conseguiu tirar a visão de mal pagador que o clube ostentava há décadas.
Os frutos colhidos foram bastante razoáveis (estabilidade financeira, credibilidade com jogadores e aumento do número de sócio-torcedores).
Deixou a desejar, contudo, em outras áreas.
Errou muito nas escolhas dos treinadores; apostas erradas em jogadores que deveriam ser o principal da equipe; enfraquecimento de modalidades tradicionais, como vôlei e remo e o que considero pior: a falta de planejamento para os mandos de campo nos jogos em 2016. 
O novo mandatário terá que conviver com algumas consequências inevitáveis disso: a diminuição dos sócio-torcedores, que não terão o seu principal benefício, que é aquisição dos ingressos; e os prejuízos técnico e financeiro com o Flamengo tendo que mandar seus jogos em Macaé, Volta Redonda ou, até mesmo, fora do Rio. É um problema que poderia ter sido evitado.
Diante de todos esses desafios - manutenção da responsabilidade fiscal, reestruturação de outros esportes, criação de atrativos que possam manter os sócio-torcedores ativos e, principalmente, a construção de sua própria casa - talvez fosse interessante a ideia de rodízio entre os mandatários, discurso defendido por Wallim. Profissionalizar de vez a administração do clube de maior torcida do Brasil e não permitir a volta do "populismo rubro-negro". 
Deus abençoe a escolha da Nação!


segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Adeus 2015

E agora?
O que resta para o clube da Gávea em 2015?
Eliminado da Copa do Brasil e com chances reduzidas de alcançar o G4, o Flamengo espera pelo fim de 2015 de forma melancólica. Sem títulos e vítima de uma série de derrotas para o seu maior rival, a torcida anseia por ares melhores em 2016.
O técnico Oswaldo de Oliveira, que deverá ser mantido para o próximo ano, deve usar as últimas rodadas para projetar o elenco ideal para o ano que vem. Peças que deverão sair e setores que deverão ser reforçados. Uma zaga que dê mais confiança ao time repleto de bons atacantes deve ser o principal alvo do treinador e da diretoria.
Mas o ano ainda não terminou.
As eleições presidenciais movimentam cada vez mais o clube e os resultados negativos podem influenciar diretamente na escolha do novo mandatário. 
Restam para o Flamengo em 2015 apenas isso: estudar o elenco para 2016 e definir o novo presidente do clube. 
Decisões que irão fazer o Flamengo vencedor de novo.
Mas só em 2016.

Ópera Pop

Um ode ao talento.
O show de Katy Perry deste domingo (27), no Rock in Rio 2015, foi exuberante. 
Para quem esperava por mais uma apresentação apenas de uma cantora pop, com um público bem específico, que esperava ansiosamente por sua entrada no Palco Mundo, viu o que chamei de "Ópera Pop".
O talento teatral dela é marcante.
E sua empatia com o público em geral e, mais especificamente, com as suas fãs vestidas de gatinhas foi outro ponto alto no espetáculo.
Após algumas trocas no vestuário, Katy destacou-se ao pegar um violão cheio de luzes cantando alguns de seus sucessos num ritmo lento e agradável.
As suas performances como egípcia, gata e uma simples garota moleque chamaram a atenção do público.
A plateia, porém queria mais.
E Katy encerrou em alto estilo com a música "Firework", casando o refrão emblemático com os fogos de artifício que a organização do evento separou para o final. 
Foi um desfecho perfeito do RIR 2015.
Os fãs saíram entoando gritos de satisfação pelo que tinham acabado de presenciar.
E os que foram conhecer passaram a admirar o talento ímpar de Katy Perry.

domingo, 27 de setembro de 2015

Favorito?

Flamengo e Vasco se enfrentam pela oitava vez neste ano, na tarde deste domingo (27), no Maracanã. E um detalhe difere o clássico dos milhões de hoje com os demais disputados no ano: o equilíbrio.
Em todos os outros, à despeito do resultado, havia sempre um Flamengo francamente favorito, a ponto de jogadores terem discursados sobre "passar por cima", "vencer por 3 a 0", etc. 
Mas, no clássico de hoje, encontramos um Vasco em ascensão, equilibrado em campo, jogando com uma referência no ataque e um meia capaz de desequilibrar com um passe, lançamento e até um gol. Um time que sabe e reconhece suas limitações e nitidamente joga por uma bola, a boa. Muito semelhante ao estilo de jogo que seu adversário utilizou ano passado, quando brigou por boa parte da temporada para fugir da "zona da confusão".
Já o Flamengo, apesar de um elenco mais qualificado, entra em campo com o fantasma do péssimo retrospecto diante do Gigante da Colina em 2015, além de vir duas derrotas, que desanimaram os mais otimistas rubro-negros e afastaram ou, pelo menos, dificultaram em muito a luta por uma vaga na Libertadores de 2016.
Vamos assistir a mais um clássico dos milhões em 2015. 
Mas o que vai desequilibrar dessa vez: o elenco qualificado que precisa reafirmar seu favoritismo e o bom momento que vinha tendo na competição ou o time que encontrou o equilíbrio, talvez na hora certa do Campeonato?

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Sintonia

Prejuízo técnico.
Foi o que o Flamengo conquistou na última quinta-feira, em Brasília.
Fora o oba-oba da torcida que, de alguma forma, contaminou os jogadores, o time não se apresentou como se realmente estivesse em casa. 
A torcida rubro-negra é apaixonada, eufórica, exigente. Mas, acima de tudo, é de fato o que impulsiona esse time há mais de cem anos.
E a torcida rubro-negra não vaia o time com pouco mais de 25 minutos do primeiro tempo. Ela empurra, briga, xinga. E não entrega os pontos tão facilmente como aquela torcida que lotou de forma brilhante o Mané Garrincha.
Mas o Flamengo está mal acostumado com sua torcida, mal acostumado em ser empurrado pela maior torcida do mundo. 
Ganhou quase R$ 2 milhões.
Mas perdeu o incentivo de uma parte dos 40 milhões de fanáticos pelas cores vermelha e preta.
Foi como um avião sem uma de suas turbinas, que para continuar subindo não pode abrir mão que ambas estejam em total sintonia, time e torcida. 

Talento

Aos poucos, uma figura vai retornando ao cenário político brasileiro. Percebendo seu enfraquecimento e iminente isolamento, a presidente Dilma recorre ao seu padrinho, aquele que se não tivesse apontado o dedo em sua direção, não teria saído das pastas ministeriais e sumiria num ostracismo quando ocorresse a troca de governo. Sim, o ex-presidente Lula.
Retorna com o objetivo de articular o que a presidente não consegue nem com a própria base do governo. Tem a missão de convencer os aliados e a oposição que as propostas da presidente são a saída para a crise atual. Tem a missão de fazer a oposição não seguir com a ideia de impeachment. 
Mas o que Lula tem a oferecer à sua base, a Cunha, Renan, à oposição que Dilma não tem? O que todos podem esperar de Lula que não esperam de Dilma? E se forem convencidos, trata-se apenas de um talento de negociação ou de gerenciamento de conflitos?
Perguntas que só a política brasileira podem responder.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Reflexos de Uma Lente Opaca - Parte 6

Essa é a parte 6 de "Reflexos de Uma Lente Opaca", um dos contos do meu livro "A Trilogia do Olhar". Em breve estará disponível.

"Sueños de Verano

Semanas antes do Natal, Jaime presenciou uma pequena manifestação naquela rua. Podia ouvir vozes conhecidas, soma de gritos e xingamentos, gargalhadas sobre o nada. Não entendia bem o motivo, mas sabia que uma obra da prefeitura não agradava a alguns de seus vizinhos. Sua barraca continuava intacta, a despeito do movimento aumentado naqueles dias. Operários transitavam com seus capacetes sujos de cimento, as roupas pesadas, sem saber se os protegiam dos perigos das obras ou se aceleravam a sua morte com o calor intenso que produzia. O verão na Rua dos Inválidos queima, ferve os sentimentos, aquece o âmago de Jaime. Para espantar o intenso suor, o velho cego afina seu instrumento e toca sem cessar, produzindo uma brisa suave em si, secando as gotas do trabalho, enxugando as lágrimas de sua dor presente.
Enquanto alguns manifestantes passavam pela sua barraca, Jaime entoava com sua cabeça baixa e olhos fechados uma de suas canções da estação. Era responsável pelo único vento que aquela rua tinha naquela manhã. Percebia os vultos de placas, dos pés, dos braços erguidos, dos gritos sem nexo e frases fabricadas. No íntimo de sua loucura, entendia a ineficiência daquele ato e se conformava com o barulho, com o calor, com a poeira levantada que o sujava a cada manhã. Um jovem, de pele morena, retirou seu capacete, enxugou o suor de sua face, sentou na calçada, arregaçou um pedaço de suas mangas e abriu uma garrafa de água.
Com barba rala, o jovem operário tinham músculos definidos, era alto e um olhar profundo. Parecia enxergar além daquela rua, além do que sua mente pudesse alcançar. Era um olhar cansado e ao mesmo tempo esperançoso, um olhar pronto para a manhã que se inicia, para a noite de alegrias e desafogo. Um olhar ora ansioso, ora conformado. O operário fazia companhia ao velho cego no seu curto período de descanso, querendo abstrair os gritos de loucura, o silêncio de sua mente que tanto o enlouquece.
O cântico invadia as suas entranhas, levando-o a lugares que sonhava desde sua infância. Sentado naquela calçada, o jovem operário podia entrar nos grandes campos de futebol, poderia ser um grande goleiro ou artilheiro. Sentia o cheiro do seu consultório dentário, a leveza de suas gravatas e o peso de sua toga. Entre um gole e outro, o alisar de Jaime nas cordas de seu violino. Entre um tom e outro, os vários sonhos do operário.
Jaime enxergava os vultos do operário, bebia de sua água, com gosto amargo da solidão. Da ausência de seu pai, o grande sonho de sua recente juventude. Não entendia a ausência, apenas sentia em seu olhar aquela carência, da figura paterna de sua infância, das palmadas de exemplo que faltaram, dos carinhos matutinos, das palavras ternas, dos braços nos ombros. Jaime entoava mais forte e mais manso e o que saia dos olhos do operário o informava de toda sua carência, sua lágrima se fundia ao inevitável suor de verão.
Jaime ainda não percebera se a mente do operário era tão forte quanto os seus braços. Tentava decifrar enquanto o seu olhar profundo falava mentiras e verdades do seu passado e presente. Enxergava as lágrimas da dor, as dores do dia e da noite. Falavam por si as emoções fraternais que outrora teve. A perda de uma parte que foi um todo em sua história, o todo que faz falta em suas manhãs, suas tardes, em sua vida. Jaime sabia que sua mente era mais forte que seus braços.
A despeito de suas emoções, das placas infundadas e manifestos, esmagou a garrafa já vazia, colocou-a no chapéu do velho cego, vestiu seu capacete levantou-se. Armou-se com sua marreta, andou até o final da rua, atravessando pessoas de bem, pessoas usadas, idosos, crianças, jovens. Olhou para trás, viu o velho cego observando sua garrafa amassada e marretou suas memórias e sonhos contra uma velha parede.
O sol daquela manhã estava forte.
O de Jaime, porém, era menor."

Pegou fogo!


A disputa está aberta.
As vitórias de Grêmio, Palmeiras e Internacional nesta quarta-feira deixaram ainda mais emocionante o campeonato brasileiro da série A.
E fizeram muitos colocarem as barbas de molho, aqueles que até o início da rodada batiam na tecla que o título já estava decidido e pior: que o G4 também tinha seus integrantes definidos.
A rodada termina apenas nesta quinta-feira, quando Flamengo e São Paulo podem confirmar o favoritismo e manterem suas posições, diminuindo a distância dos dois para o líder para 10 pontos. Exatamente a mesma diferença que o Flamengo tinha para o líder em 2009 e que acabou sendo o campeão.
Flamengo e São Paulo devem manter a concentração para confirmar suas posições.
Mas após essa rodada, independentemente dos resultados de quinta, creio que, do Corinthians ao Inter, todos têm chances reais de título.
A reta final do campeonato reserva muita emoção para o torcedor.
E ainda reclamam dos pontos corridos...

Sentimos muito


A afirmação do líder do Governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE), que disse que “as pessoas nem sentem” a cobrança do tributo (no caso, a CPMF) é de uma lastimável falta de respeito e consideração com a população que apostou nesse Governo. Um partido que durante alguns anos questionou a carga tributária elevada, além de criticar a criação e manutenção deste mesmo imposto pelo governo anterior, recorre ao mesmo artifício para cobrir rombos e déficits no orçamento.
Lembro que o fim da CPMF foi muito comemorado no Governo Lula e tida como cumprimento de promessa de campanha. Tratava-se de um tributo que seria destinado à saúde. Os anos se passaram e não houve nenhuma melhora perceptível da saúde pública. Nenhuma. No final das contas, era notório que o tributo foi utilizado para outros fins, legais ou não, mas que de fato, não atingiram o objetivo fim.
Como acreditar num governo envolto a todas as denúncias deflagradas na operação lava-jato? Dá para acreditar que esse tributo será realmente usado para esse fim?
O governo precisa reconhecer sua incompetência administrativa, cortar na própria carne e promover medidas que possam gerar crescimento. Criar mais um tributo é punir o próprio trabalhador, aquele que realmente é responsável pelo crescimento econômico. Mais um tributo vai contribuir em arrochar mais ainda a classe trabalhadora. E o que dizer ao líder do governo sobre sua infeliz opinião de que as pessoas não sentem? Pense, sr. Deputado, que as pessoas sentem qualquer centavo tirado à força de seu salário, principalmente pois não veem  nenhum retorno.  Antes de tirar da população, tome atitudes que realmente não farão as pessoas sentirem.
Ser brasileiro é muito caro. Pagamos um preço muito alto para não termos nada em troca. Não temos saúde, educação, transporte decentes. Os serviços públicos de qualidade são privatizados e e maior empresa estatal é uma vergonha mundial em escândalos de corrupção. Esse governo não tem moral para criar mais um tributo. Nunca a população esperou tanto do Congresso uma atitude que pode mudar o seu dia a dia. E essa é a vantagem de uma democracia. Atitudes impensadas de uma presidente podem ser vetadas pelo bom senso dos representantes legais da população. 
No momento, sentimos muito.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Nada está decidido

Logo após o sorteio para as oitavas de final da Copa do Brasil (2015), o diretor executivo do Flamengo, Rodrigo Caetano, lamentou o clássico diante do Vasco da Gama. Segundo ele, "o clássico equilibra as forças". É inegável a superioridade técnica do elenco do Flamengo frente o seu arqui-rival. Contudo, acabou sendo eliminado duas vezes esse ano pelo time da colina histórica (no campeonato carioca e na Copa do Brasil). Rodrigo Caetano estava certo: o clássico equilibra as forças.
E é por esse motivo que acredito que não há nada decidido no Campeonato Brasileiro deste ano. À despeito da boa vantagem do Timão e de sua boa fase, o time do Parque São Jorge ainda terá pela frente três confrontos regionais (São Paulo, Santos e Ponte Preta). O Atlético-MG, time que vem a seguir, já passou pelo único confronto regional, o duelo contra o Cruzeiro. Descendo mais a tabela, temos Grêmio e Flamengo, equipes que terão um confronto regional até o final do campeonato (Internacional e Vasco, respectivamente). Logo atrás, o São Paulo, que, assim como o Corinthians, terá pela frente três clássicos regionais. 
Se o clássico equilibra as forças, é de se acreditar que o Timão perderá pontos nesses duelos, independentemente de sua superioridade técnica. 
Creio  que os clássicos regionais serão fundamentais para a definição do campeão brasileiro. O Corinthians segue favorito e com uma boa vantagem para levantar a taça. Porém, aquilo que equilibra as forças, ou seja, um time como a Ponte Preta tirar pontos do líder, assim como o fez com o Santos semana passada, o clássico regional pode mudar o destino deste campeonato.
Nada está decidido ainda.

Prólogo - A Trilogia do Olhar


Esse é o prólogo do meu novo livro de Contos. Em breve estará disponível em eBook e nas livrarias. Quem estiver interessado deixe o contato nos comentários que retornarei assim que possível.

"Olhar. Ou ato de olhar.
Mas olhar é bem mais que apenas exercer o poder da visão; também é saber usá-lo, como usá-lo, dar a importância a isso ou mesmo o desprezo desse ato. Muitos olham, mas não enxergam, outros não podem ver, mas enxergam tudo. Esses conseguem valorizar o verdadeiro sentido do olhar, parecem enxergar além do que as cores podem refletir ou o que a luz pode revelar. São verdadeiros contempladores do ato mais importante dentre os sentidos básicos da vida.
Podemos olhar vigiando; podemos olhar encarando. Nosso olhar é de fato preconceituoso, traz consigo uma carga de sentimentos vividos e decifra, dessa forma, como um grande catálogo de imagens previamente interpretadas, não como são, porém, como queremos. Se enxergamos o que queremos, não vemos exatamente o que olhamos. E se olhamos sem enxergar o que vemos, podemos ver um reflexo mal interpretado de nossa alma.
Olhar também pode significar apenas o ato de observar ou notar algum fato, algumas pessoas, alguma paisagem. E observar traz consigo julgamentos vãos, justos e injustos; observar o erro alheio é mais fácil que olharmos para dentro de nós mesmos. Observar é um desafio constante; o olhar é a arma que usamos.
É cuidar. Olhar também é um ato assistencialista, de gratidão, de oferta de tempo. É fazer para o outro o que queremos para nós mesmos; é um olhar carinhoso, gratuito, por vezes oneroso. É o olhar da mãe, do pai, de Deus. Cuidar de si mesmo poderia ser um ato egoísta, mas é a própria autoestima refletida no exercício do olhar.
O modo de olhar é um dos pilares de sua interpretação. Podemos enxergar coisas diferentes num mesmo olhar, dependendo do ângulo, se estamos só, com febre, alegres, tristes, se temos fé, se estamos perdidos, se temos sorte, se estamos na escuridão, se estamos vivos ou mortos. Olhar com boa vontade as boas ações tem o mesmo peso que olhar de má vontade o desprezo. Ambas têm o mesmo fundo visual: as boas ações eram boas porque tínhamos boa vontade em enxergá-las; o desprezo não foi valorizado porque o olhamos de forma desprezível.
Podemos ter a mente morta e enxergar o que nossa pele sente ou o que ouvimos. É o olhar a partir de outros sentidos. Vemos a febre a partir do frio, enxergamos a dor no barulho. O olhar é, assim, musical. E temos um tenor a cada sentimento ou a cada sentido e isso permite uma mente ausente enxergar aquilo que sente.
O ponto cego do olhar é um desafio à mente humana; é um fato fácil de se explicar na ciência. Mas o olhar transcende a ciência; é preciso ter fé no que se diz ou se lê. E acreditar no ponto cego não é tão fácil assim. Como também é difícil entender o olhar de um cego. O cego usa todos os artifícios de seus sentidos ainda intactos para criar uma imagem. É livre, tem a mente liberta para criar do jeito que quiser. E guarda para si, não tem como expressar fielmente o que vê, mas pode apreciar a melhor fotografia, enxergar o belo na mais desprezível imagem humana que possa surgir à sua frente, mas que, deveras, não vê.
Podemos desvirtuar o nosso olhar a despeito do que a natureza mostra. Criamos um cenário virtual a partir de um olhar ingênuo, como se fosse um tipo de ilusão de ótica, mas dessa vez, criada por nós mesmos. Reflete do que se enche o coração, de arco-íris ou de cinzas. Dessa mistura de cores e sentimentos, surge aquilo que vemos, aquilo que inventamos ao olhar.
É mais que enxergar, que decifrar a imagem. Olhar pode ferir e pode curar; pode fazer chorar e rir; pode agregar e separar. O olhar fala muito mais que palavras.
Mesmo quando nos falha a mente, a visão ou quando criamos uma realidade paralela, o olhar continua sendo o elo de comunicação de nossa alma com o mundo. Permite que sejamos melhores do que realmente somos. O olhar se torna um escape à indecência, cinismo e injustiça que vemos. O que só a nossa mente vê é o que de fato somos.
O inconsciente, a cegueira e a fantasia...
A trilogia do olhar."

Quando a pimenta é refresco

Não basta a vergonha de ser brasileiro. Não basta a indignação daquilo que vemos e lemos. Não basta ter que engolir em seco o que nos empurram dia após dia. Seria nosso carma, castigo, destino? Seria o que de fato merecemos? Talvez, provavelmente, com certeza.
Alguns meses após as eleições presidenciais, durante as quais já nos banhávamos em meio a inúmeras denúncias de corrupção, começamos a experimentar o amargo sabor da irresponsabilidade administrativa de um governo, outrora socialista e humanitário, mentiroso, corrupto e perdido. Chantagistas e oportunistas são ainda considerados heróis de uma época mal explicada, quando estas mesmas figuras revolucionárias lutavam contra um determinado modelo opressor, que tinha muitas críticas sobre si, menos, digamos, menos essa inescrupulosa trama de corrupção, jogo de interesse, etc. Tentam camuflar suas ações com discursos demagógicos que não colam mais. 
Não basta a revolta. Não basta!
Uma crise mundial se desenhava nos últimos meses mas apenas o Brasil estaria imune. E muitos acreditaram no improvável, acreditaram num discurso mal feito à despeito de todo alerta emitido. Acreditaram na ingenuidade. Todos foram ingênuos. E talvez os próprios corruptos sejam ingênuos. 
Não acredito, porém.
Acreditam num Brasil dementado que não tem memória de seus verdadeiros heróis. 
Heróis não são os exilados, os artistas, os esportistas. Nossos heróis são os mesmos ingênuos que acreditaram num olhar mentiroso que sabia de tudo o que estava por vir mas omitiu. Nossos heróis pagam a pesada conta da irresponsabilidade, da mentira, da corrupção.
Não basta reconhecer que somos os heróis-trouxas. Ainda por cima temos que pagar a conta da tragédia.
Os heróis exalam tristeza e desânimo.
O corte no orçamento não inclui suas falcatruas e desvios. A simples proposição de uma nova CPMF é o exemplo de total desconsideração com nossos heróis. A negociação para aprovação por parte do Congresso é nojenta. Aumentar a alíquota para que alguns Estados "lucrem" com tal imposto é de dar um nó na garganta, é desanimador. É de se perder a esperança de dias melhores. 
Não basta uma das maiores cargas tributárias do mundo. É preciso aumentar ainda mais para que a parte deles não seja comprometida. E quando acreditávamos que uma falsa oposição lutaria contra esse legítimo furto, surgem negociando uma alíquota diferenciada para atender aos seus próprios interesses. É como se tivessem maturando uma pimenta na garrafa. E no final, todos sabem onde é que vai arder.