quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

A Conspiração da Dúvida

Antes que se faça equivocado juízo, sou contrário à medida de torcida única nos clássicos de futebol. Após ler e ouvir tanto quem apoia quanto quem discorda, fiquei com minha ideia inicial acerca do tema, e que não vem ao caso repetir todos estes tópicos tanto falados nos últimos dias.
Pensei, contudo, no pano de fundo dessa demora absurda na definição do palco da semifinal da Taça Guanabara. Longe de querer examinar a fundo toda a essência sociológica de uma escolha tão difícil, pois seriam necessárias longas discussões éticas e morais que poderiam estar envolvidas nesse caso; mas um ponto específico, que não é exclusivo no meio esportivo, tampouco no futebol: a feia e velha mania brasileira de não cumprir a lei.
Ora, não me faço o trabalho de pesquisar aqui a data do arbitral da Federação, quando todos os clubes decidiram as regras do jogo e também quando foi divulgada a tabela do campeonato. Mas, é fato que nas últimas semanas sabíamos que as semifinais da Taça GB seriam disputadas nesse fim de semana de Carnaval e que, na impossibilidade de se utilizar o estádio do Maracanã, a partida seria disputada no Engenhão. 
Não tínhamos nenhuma dúvida sobre isso.
Após uma decisão judicial, porém, surgiu a dúvida inesperada. Onde será a partida da semifinal entre Flamengo e Vasco da Gama?
Mas por que a dúvida?
A ordem judicial não determinava a troca de local da partida, apenas que houvesse torcida única. 
Então, os representantes do nosso falido futebol, camuflado de uma boa vontade e de um discurso humanista de boa vizinhança, organizam uma reunião e, como não poderiam fazer de outro jeito, pedem que fosse reconsiderada a decisão do Juiz. É um pequeno exemplo de como no Brasil as leis são feitas para não serem cumpridas; são feitas com imensos e difíceis textos, passíveis de diferentes interpretações, aparentemente de forma proposital.
Sabia-se onde era o jogo; havia uma decisão judicial; cumpra-se! Depois se discute o mérito, julga-se, enfim. Mas, não. Arrumou-se uma forma de não se cumprir a lei e fez com que a "dúvida" se tornar-se notícia, quando, na verdade, ela nunca existiu.
Criou-se, assim, a conspiração da dúvida. Para não se cumprir a lei, nos fizeram a acreditar em coisas que nem existiam,
Alguém duvida? 

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