domingo, 4 de outubro de 2015

Trem das Onze

Onde está o problema?
O futebol sempre foi tido como um esporte que não fazia distinção de raças, sexo, classe social, etc. E por muito tempo se reclamava que o estádio não era local apropriado para as famílias. E de fato, em alguns jogos continua não sendo.
Mas com a construção das novas arenas tem-se visto cada vez mais a presença de crianças, mulheres acompanhando seus maridos e namorados, avós com seus netinhos vestidos com a camisa do clube de coração do vovô. Enfim, estão fazendo parte do espetáculo.
Esse espetáculo, aliás, é composto por uma gama de profissionais que trabalham arduamente para o seu sucesso: atletas, comissão técnica, imprensa, dirigentes, comissão de arbitragem e, por que não, o torcedor?
Cada um tem seu papel numa partida de futebol. O atleta é o artista principal, é ele que vai provocar aplausos ou vaias no final; os técnicos são responsáveis pelo perfeito desenvolvimento das ações do atleta; a imprensa é quem promove o evento, divulga, descreve os fatos, dá vida ao que não pode ser visto; os dirigentes deveriam apenas organizar, apenas isso; os árbitros dão legalidade ao evento.
E o torcedor?
Para que todos os integrantes do espetáculo possam dar o melhor de si vários aspectos são levados em conta. E cada um com seu interesse próprio. O local da partida, o horário, quem pode e quem não pode jogar, etc.
E o torcedor?
Há tempos, uma partida de futebol era assistida aos sábados ou domingo à tarde. Durante a semana, o horário de início não passava das 20:30.
Com o passar dos tempos, houve mudanças em locais e horários para que os interesses comerciais pudessem ser cumpridos. E as partidas começaram a ser disputadas à noite de domingo ou em horários esdrúxulos de meio de semana como 19:30 e 22 h. Todos se adaptaram: jogadores, comissão técnica, imprensa, dirigentes, árbitros e... a torcida!
Neste ano, porém, um horário novo foi testado. As manhãs de domingo, jogo às 11 h. Cercado de dúvidas, o novo horário foi sendo testado e, repetidamente, um integrante do espetáculo acatou de vez a mudança: o torcedor!
A média de público nos jogos das 11 h foi surpreendente. Em todas as partidas, estádio cheio. E a presença marcante de um público que tanto era esperado nos espetáculos: a família! Pudemos ver de perto crianças ao lado dos pais curtirem numa manhã de domingo uma partida de futebol do clube do coração. Os pais levaram, inclusive, crianças de colo. Logisticamente, para a família, é bem atrativo. A partida termina por volta das 13 h, horário de almoço e a família ainda tem o restante do domingo para curtir. O espetáculo parecia, agora, agradar o lado mais abastado desta "relação":  a do torcedor.
Numa partida de quarta-feira que começa às 22 h, o torcedor só vai chegar em sua casa por volta das 2 h da madrugada e ainda ter que acordar algumas horas depois para trabalhar. As partidas de sábado e domingo à noite não são atrativos a esses públicos, nem um pouco. À despeito disso, o torcedor ainda se sacrifica para não deixar de apoiar seu time.
Mas enfim, conseguiram um horário que pudesse aliar o bem estar de todos.
Todos se adaptariam, questão de tempo. Não se adaptaram às partidas de 22 h?
Porém...
A CBF informou essa semana que o horário das 11 h não vai mais ocorrer no Campeonato Brasileiro.
De onde vem os pedidos? Apenas dos atletas? De fato, não sabemos.
Infelizmente, a voz de um importante integrante, capaz de dar brilho e som ao espetáculo, não será ouvida mais uma vez.
Os dirigentes continuarão reclamando de públicos medianos, a imprensa noticiando o fato e os "artistas" não terão a plateia cheia para receber seus aplausos.
O torcedor já paga um preço alto para os padrões de Brasil; não tem jogadores à altura desses valores; muitas partidas são de nível ruim para péssimo; os erros de arbitragem, cada vez mais comuns.
E o torcedor? Onde ele errou?
Nessa "relação", o torcedor é quem sempre cede.
E quem sempre apanha.

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